sábado, 18 de outubro de 2014
terça-feira, 14 de outubro de 2014
O uso pedagógico dos mapas conceituais no contexto das novas tecnologias.
O USO
PEDAGÓGICO DOS MAPAS CONCEITUAIS
NO
CONTEXTO DAS NOVAS TECNOLOGIAS
Juliana
Souza Nunes*
RESUMO
O
presente artigo destaca alguns aspectos da investigação realizada
no âmbito do Euromime (Mestrado Europeu em Engenharia de Mídias
para a Educação) sobre o uso pedagógico dos mapas conceituais.
Essa pesquisa teve por objetivo identificar como e para quê os mapas
conceituais estão sendo utilizados especificamente por meio de
Tecnologias da Informação e da Comunicação. Através de um
questionário aplicado em docentes de todos os níveis de ensino e
áreas do conhecimento no Brasil, identificamos as funções
didático-pedagógicas e o papel atribuídos aos mapas conceituais no
processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chave:
Tecnologias da Informação e da
Comunicação, tecnologia educativa, aprendizagem significativa,
mapas conceituais.
ABSTRACT
This
paper presents some aspects of the research conducted within the
framework of Euromime (European Master in Media Engineering for
Education) about the pedagogical use of conceptual maps. The
objective of this research was to identify how and what for
conceptual maps are been used specifically through Information and
Communication Technologies. Through a survey with teachers from all
levels of education and knowledge areas in Brazil it has been
possible to identify the educational functions and the role assigned
to conceptual maps in the teaching/learning process.
Keywords:
Information
and Communication Technology, technologies applied to education,
significant learning, conceptual mapping.
INTRODUÇÃO
O estudo
realizado abordou a utilização que os docentes brasileiros estão
fazendo de ferramentas de Tecnologias da Informação e da
Comunicação (TIC) em sua prática pedagógica. Embora os mapas
conceituais tenham sido criados na década de 70, seu uso ganhou
força nos anos 90 quando surgiram as ferramentas informatizadas que
possibilitam sua construção e seu compartilhamento.
A
utilização dos mapas conceituais ainda é pouco explorada e muitas
vezes equivocada. Ao usá-los, é inevitável uma mudança na forma
de ensinar e aprender exigindo do aluno um esforço para trilhar
caminhos diferentes na construção do seu conhecimento uma vez que
muda bastante a forma com que se expressa. Esse artigo, através do
estudo realizado, retoma a discussão sobre a utilização dos mapas
conceituais, considerando o seu potencial como ferramenta no âmbito
das TIC aplicadas à Educação. Referindo-nos não apenas a inovação
pedagógica através dos recursos tecnológicos, mas também ao
potencial que estas ferramentas têm para a aprendizagem colaborativa
e para o desenvolvimento de competências.
OS MAPAS CONCEITUAIS NO CONTEXTO EDUCATIVO ATUAL
Diante do
contexto da sociedade em que vivemos, a chamada Sociedade da
Informação e do Conhecimento, podemos deduzir a necessidade de um
novo paradigma educativo que atenda as suas demandas. Embora os mapas
conceituais tenham surgido há mais de 30 anos, seu uso pedagógico
nos parece bastante pertinente atualmente e será cada vez mais
adequado a este novo contexto.
Foi
buscando uma forma mais fidedigna para avaliar o processo de
aprendizagem que o cientista norte-americano Joseph Novak [1]
desenvolveu os mapas conceituais. Ao criá-los, Novak baseou-se na
teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel,
especificamente na premissa de que esta “ocorre quando a tarefa de
aprendizagem implica relacionar, de forma não arbitrária e
substantiva (não literal), uma nova informação a outras com as
quais o aluno já esteja familiarizado, e quando o aluno adota uma
estratégia correspondente, para assim proceder” (AUSUBEL, NOVAK e
HANESIAN, 1983).
González
(2008) nos afirma que o modelo emergente construtivista tem se
mostrado muito mais adequado para liberar o potencial criativo dos
alunos, facilitando a aprendizagem significativa, isto é, uma
aprendizagem oposta à memorística por recepção mecânica, que é
predominante ainda nos dias de hoje. Essa aprendizagem capacita os
alunos para construírem o seu futuro de forma criativa e
construtiva, sendo mais pró-ativos que reativos. No que se refere ao
papel dos mapas conceituais nesse âmbito, o autor complementa que o
marco teórico desenvolvido por Ausubel e por Novak constitui um
sólido apoio para o tratamento dos distintos problemas específicos
de uma autêntica reforma da Educação. E é no seio desse marco que
surgiram as poderosas ferramentas instrucionais como o mapa
conceitual (GONZÁLEZ, 2008).
E
ENTÃO, O QUE É UM MAPA CONCEITUAL?
Quando
nos vem em mente a palavra “mapa” logo associamos a uma
representação de uma superfície ou área geográfica, um caminho
que pretendemos percorrer ou um roteiro que nos leva a algum lugar.
Assim como um mapa geográfico pode representar um espaço físico
através das relações entre lugares, o mapa de conceitos seria um
roteiro de aprendizagem que representa o conhecimento através das
relações estabelecidas entre ideias ou conceitos. Ao construir um
mapa, o aluno pode traçar o seu próprio roteiro de acordo com as
ideias que ele tem sobre um tema, a fim de esclarecê-lo e chegar a
dominá-lo de acordo com as suas necessidades.
Em outras
palavras, o mapa conceitual é uma ferramenta que ajuda alunos e
professores perceber os significados da aprendizagem. Novak os define
como ferramentas educativas que externalizam o conhecimento e
melhoram o pensamento, tendo como objetivo representar relações
significativas entre conceitos na forma de proposições. Ausubel et
al (1983) definem conceito como
objetos, eventos, situações ou propriedades que possuem atributos
de critérios em comum e que designam mediante algum signo ou
símbolo, tipicamente uma palavra com um significado genérico. Dois
ou mais conceitos unidos por uma palavra de ligação forma a
proposição. Entende-se por
proposição uma ideia composta expressa verbalmente numa sentença,
contendo tanto um sentido denotativo quanto um sentido conotativo, as
funções sintáticas e as relações entre palavras (AUSUBEL et
al, 1983).
Desta
forma, as diversas proposições compõem os significados dos
conceitos que são aprendidos, o que foi constatado por Novak durante
o estudo que realizou e que o levou a criar esta ferramenta.
Percebeu-se que os significados a cerca de um conceito construído
são um conjunto de conceitos relacionados em crescente ligação
proposicional entre o conceito central e os conceitos relacionados a
ele. E, então, podemos dizer que um mapa conceitual é um recurso
esquemático para representar um conjunto de significados conceituais
incluídos numa estrutura de proposições (NOVAK e GOWIN, 1999). Por
isso, esta construção é feita geralmente a partir de uma pergunta
de partida. No exemplo ilustrado abaixo foi construído um mapa
conceitual que respondesse “O que são mapas conceituais?” e
procura sintetizar os conceitos que foram apresentados anteriormente:
POR
QUE MAPAS CONCEITUAIS?
Muitas
são as possibilidades de ser trabalhar pedagogicamente com os mapas
conceituais. Para conhecermos como estão sendo usados propomos no
instrumento da pesquisa de campo dez possibilidades de uso que foram
baseadas, fundamentalmente, na teoria de Ausubel e de Novak. Os
docentes consideraram as funções que utilizam, analisando se
atingem os objetivos pretendidos e se obtêm êxito em aplicá-las no
processo de ensino e aprendizagem. Apresentamos então as funções
didático-pedagógicas que foram abordadas no estudo, são elas:
1. Apoio
instrucional: neste caso os mapas
podem ser usados pontualmente para dar uma instrução sobre uma
atividade a ser executada ou para dar orientações sequenciais sobre
um determinado tema.
2.
Organizadores prévios:
este conceito está presente na teoria da aprendizagem significativa
de Ausubel (Ausubel et al,
1983) quando nos diz que o mais importante no ato de ensinar é
descobrir o que o aluno já sabe. Segundo Faria (1995) o objetivo é
usar o mapa para estabelecer uma ponte cognitiva entre as ideias
disponíveis pertinentes dos alunos e o novo material de
aprendizagem. Ou seja, é fundamental orientar o aluno para que ele
faça as conexões das novas informações ensinadas com conceitos
relevantes estabelecidos em sua estrutura cognitiva.
3.
Desenvolvimento dos conteúdos:
estamos de acordo com Faria (1995) quando nos coloca que o
conhecimento não é estático e está sendo continuamente
reconstruído, à medida que ele se envolve em novas experiências e
reflete sobre as mesmas. Quando os mapas conceituais são construídos
no início em que um determinado tema ou conteúdo é apresentado
(quando são utilizados como organizadores prévios) e o mesmo é
revisado, repensado e reelaborado ao longo das aulas, podem revelar
as mudanças ocorridas na estrutura cognitiva do aluno. Essas
possibilidades permitem que o aluno e o professor conheçam o
processo de construção do conhecimento sobre o conteúdo ou tema em
questão, podendo enriquecê-lo, pois de acordo com González (2008)
“aprendemos acrescentando novos conceitos à estrutura existente,
que por esta causa se modifica com o tempo. Enquanto se produz nova
aprendizagem, esta se fortalece uma vez que se incorpora a um sistema
já existente”.
4.
Síntese dos conteúdos trabalhados:
no final de uma aula ou de um curso, os mapas conceituais podem
representar um resumo esquemático do que foi aprendido, formado pelo
número de ideias-chave de uma aprendizagem específica.
5.
Compartilhar informações:
neste caso em específico, nos referimos a possibilidade de
disponibilizar o conhecimento que foi construído para
compartilhá-lo. Esse modelo de conhecimento pode ser construído
através das outras funções didático-pedagógicas aqui citadas e
disponibilizado na Internet. Alguns softwares
permitem que após a construção do mapa seja possível
transformá-lo em uma página web,
numa imagem ou qualquer outro formato que possa ser enviado por
correio eletrônico ou publicado num diário digital. O Cmap Tools
[2] , por exemplo, oferece um ambiente servidor em que os mapas podem
ser armazenados e consultados de qualquer ponto da rede.
6.
Construção colaborativa em grupos
do mesmo nível de ensino e (7).
Construção colaborativa com outras
instituições de ensino: para ambos
os casos, algumas ferramentas permitem que mapas possam ser
construídos colaborativamente de forma síncrona ou assíncrona. Os
estudantes podem construí-lo presencialmente e também elaborar o
mesmo mapa ao mesmo tempo com outros colegas.
8.
Avaliação:
os métodos tradicionais limitam-se a diagnosticar a recuperação
dos conhecimentos armazenados na memória, sem estar na maior parte
dos casos inter-relacionados nem hierarquizados, por não terem sido
aprendidos significativamente (GONZÁLEZ, 2008). O mapa conceitual é
uma alternativa para uma avaliação coerente com a teoria da
aprendizagem significativa, pois “centrar-se no rendimento do aluno
e na sua intervenção na realização de práticas que conectam sua
aprendizagem com a experiência do mundo real” (González, 2008).
9.
Portfólio:
essa função está relacionada com o uso do mapa para o
desenvolvimento dos conteúdos. Utilizando as possibilidades de
armazenamento de mapas conceituais de algumas ferramentas, alunos e
professores podem acrescentar elementos e conceitos em um mapa e
organizá-lo como portfólio de aprendizagem. De acordo com Sá-Chaves
(2004), esse instrumento traduz um conjunto de trabalhados produzidos
num determinado período de tempo, proporcionando uma visão ampla do
processo de construção da aprendizagem e modificações na
estrutura cognitiva desse aluno considerando os diferentes
componentes do seu desenvolvimento cognitivo, metacognitivo e
afetivo.
10.
Reflexão crítica:
os alunos podem ser estimulados a refletir sobre o seu processo de
pensamento, fazendo registros diários a partir das experiências com
os mapas elaborados. Segundo Novak e Gowin (1999) o pensamento
refletivo é o fazer algo de forma controlada, que implica levar e
trazer conceitos, bem como juntá-los e separá-los de novo. O ato de
fazer e o refazer mapas conceituais pode auxiliar esse processo
sobretudo se o compartirmos com outras pessoas.
Essas
funções não se excluem, a maioria delas pode ser utilizada
conjuntamente ou mesmo em diferentes circunstâncias de acordo com o
contexto pedagógico e a necessidade do momento em que os mapas são
aplicados. O interessante é perceber quão rico é o seu papel no
processo de aprendizagem que seguramente se torna significativo.
A
construção de mapas não exige, obrigatoriamente, recursos
tecnológicos. Porém, diversos programas de computador de edição
de mapa conceitual estão disponíveis na Internet e potencializam o
uso pedagógico dessa ferramenta suportado pelas TIC. Além da
possibilidade de alterar um texto, escrevendo, apagando e formatando
com facilidade, utilizar uma ferramenta tecnológica nos oferece uma
infinidade de aplicações através da Internet. Por exemplo, é
possível construir um mapa conceitual colaborativamente também a
distância; podemos publicá-lo em servidores onde outras pessoas
podem acessá-lo e podemos exportá-lo como página web
ou como uma imagem. Em um mapa conceitual podemos agregar aos
conceitos imagens, vídeos, páginas web,
textos, planilhas, apresentações e, inclusive, outros mapas
conceituais. Utilizando os buscadores de alguns programas, podemos
encontrar outros mapas de acordo com o nosso interesse e podemos
compartilhar o nosso. Um recurso interessante é o de gravação: um
mapa conceitual pode ser gravado desde o início permitindo o
acompanhamento posterior de todo o seu processo de construção. Além
disso, eles são facilmente armazenados, podendo ser organizados como
portfólios e visualizados de forma que permita acompanhar a evolução
da estrutura cognitiva do seu autor.
Complementamos
a estas possibilidades a seguinte afirmação de Juan de Pablos Pons:
“a evolução da tecnologia, não teve como meta fins educativos.
Esta, em si mesma, não significa uma oferta pedagógica como tal. O
que acontece é que sua validez educativa se sustenta no uso que os
agentes educativos fazem dela” (DE PABLOS, 2006). Com isso,
buscamos retomar a utilização das TIC através dos mapas
conceituais acreditando que o uso eficiente que o professor faz
destes recursos, contribui para que a instituição escolar
solidifique a pertinência do seu papel diante da demanda da chamada
Sociedade da Informação e do Conhecimento.
Nesse
ínterim, também abordamos algumas competências de aprendizagem [3]
que podem ser desenvolvidas a partir dessas funções
didático-pedagógicas dos mapas conceituais. Como por exemplo, a
capacidade de investigar e buscar
informações e, subsequente a essa,
a capacidade de analisar e sintetizar
informações; a capacidade
de classificar e ordenar conceitos e
a capacidade de estabelecer relações
definindo implicações de causalidade entre conceitos e ideias
que estão relacionadas entre si e com as competências anteriores.
Enfim, a capacidade de construir
conhecimento e, consequentemente, a
capacidade de externalizá-lo
também fazem parte dos grandes desafios para a elaboração de mapas
conceituais e do processo de aprendizagem.
Para
González (2008) a avaliação dentro do novo paradigma educativo
deveria centrar-se na capacidade de
resolver problemas que o aluno
demonstra, juntamente com o desenvolvimento de outras habilidades
mais complexas. Como por exemplo, no âmbito das TIC aplicadas à
educação, a capacidade de trabalhar
colaborativamente e cooperativamente
e a capacidade de utilizar
ferramentas e recursos tecnológicos
que podem ser desenvolvidas conjuntamente através da construção
digital de mapas.
A
capacidade de aprender
é a principal competência a ser desenvolvida através da
metodologia dos mapas. Haja vista que uma das obras mais conhecidas
de seu criador, Joseph Novak, chama-se “Aprender a aprender”.
Para Novak e Gowin (1999), estimular a aprendizagem significativa dos
alunos é também ajudá-los a perceberem a natureza, o papel dos
conceitos e as suas relações, assim como elas se configuram em suas
mentes e no mundo exterior.
DESTAQUES DO ESTUDO DESENVOLVIDO
Buscando
responder como e para quê os mapas conceituais estão sendo
utilizados no Brasil, constatamos que embora eles tenham sido criados
na década de 70, a sua utilização não é predominante na prática
pedagógica dos docentes brasileiros. Dado que correios eletrônicos
foram enviados para instituições de ensino, autores de trabalhos
dentro da temática e listas de discussão sobre TIC e mapas
conceituais aplicados em educação, não garantiram a grande
participação de docentes que atendessem o critério uso pedagógico
dos mapas conceituais.
Os
docentes que declararam usar um software
específico para construir mapas
conceituais estão usando o Cmap Tools (cerca de 80% deles). Esse
dado vem de encontro com algumas das funções didático-pedagógicas
e competências que foram consideradas pela maioria dos docentes, uma
vez que nem todas as ferramentas disponíveis permitem explorá-las.
A fácil utilização dessa ferramenta permite o valor adicionado que
supera a facilidade da aproximação ao mundo das novas tecnologias,
por parte dos professores que, em geral, apresentam uma tendência
não muito entusiasta em relação à aplicação da cultura das
novas tecnologias em seu papel docente, por uma parte, devido a
preconceitos e, de outra, a existência de uma proverbial
desconfiança para alcançar um grau de domínio aceitável de uma
ferramenta informática (González, 2008).
Vimos
então que o uso de mapas no Brasil vem aumentando, sobretudo através
de recursos tecnológicos. Embora os recursos disponíveis atualmente
na Internet possam facilitar o trabalho entre diferentes níveis de
ensino e colaborativamente com outras instituições, eles ainda são
pouco explorados. Destacando-se então, como dinâmica de uso
prevalecente, o trabalho em grupo no mesmo nível de ensino e na
mesma instituição.
Partindo
das funções didático-pedagógicas sugeridas, destacamos que as
competências que estão diretamente relacionadas com a elaboração
de mapas estão sendo consideradas significativamente pelos docentes.
Complementamos que estão sendo usados principalmente para o
desenvolvimento de competências como: a capacidade de classificar e
ordenar conceitos; a capacidade de analisar e sintetizar informações
e a capacidade de estabelecer relações definindo implicações de
causalidade entre conceitos e ideias.
Além
dessas, os docentes também consideram que através do uso dos mapas
conceituais outras competências podem ser desenvolvidas, tais como:
a capacidade de utilizar ferramentas e recursos tecnológicos, a
capacidade de investigar e buscar informações, a capacidade de
construir conhecimento e a capacidade de aprender.
Foi
possível afirmar que todas as competências de aprendizagem que
foram sugeridas nesta pesquisa estão sendo desenvolvidas através da
utilização de mapas conceituais. Assim como as funções
didático-pedagógicas a eles atribuídas, os docentes declaram que
todas elas são desenvolvidas em maior ou menor grau.
Enfim, a
teoria da aprendizagem significativa juntamente com os estudos que
estão sendo realizados têm apresentado os mapas conceituais como
uma metodologia de ensino promissora no contexto da Sociedade da
Informação e do Conhecimento.
Atualmente,
um amplo quadro teórico impulsiona ricas experiências de aplicações
dos mapas desde a Educação Infantil até o Ensino Superior, nas
diversas áreas do conhecimento. Embora tais experiências estejam
solidamente fundamentadas, os mapas conceituais ainda são pouco
conhecidos. Porém, seu uso está crescendo no Brasil devido à
iniciativas direcionadas para a formação de professores e
aplicações pedagógicas, todas voltadas para a difusão do mapa
conceitual como uma ferramenta no âmbito das TIC.
Considerando
o panorama do ensino no Brasil, carente de uma sistematização da
metodologia de Novak, juntamente com a teoria da aprendizagem
significativa de Ausubel, a disseminação do uso dos mapas
conceituais não nos parece utópica. Conhecer essa ferramenta e
trazê-la para o dia-a-dia da prática dos docentes vem de encontro
com as necessidades emergentes do atual sistema de ensino.
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Acesso em 29/06/2012.
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO
O Computador auxiliando o processo de mudança na escola
José A. Valente
NIED-UNICAMP e
CED-PUCSP
INTRODUÇÃO
Estamos
praticamente vivendo na sociedade do conhecimento onde os processos de
aquisição do conhecimento assumem um papel de destaque exigindo um profissional
crítico, criativo, reflexivo e com capacidade de pensar, de aprender a
aprender, de trabalhar em grupo e de se conhecer como indivíduo. Cabe à
educação formar esse profissional. No entanto, a educação capaz de formar esse
profissional não pode mais ser baseada na instrução que o professor transmite
ao aluno mas, na construção do conhecimento pelo aluno e no desenvolvimento
dessas novas competências.
Uma das tentativas de se repensar a educação tem sido feita por
intermédio da introdução do computador na escola. Entretanto, a utilização do
computador na educação não significa, necessariamente, o repensar da educação.
O computador usado como meio de passar a informação ao aluno mantém a abordagem
pedagógica vigente, informatizando o processo instrucional e, portanto,
conformando e fossilizando a escola. Na verdade, tanto o ensino tradicional
quanto sua informatização prepara um profissional obsoleto.
Por outro lado, o computador apresenta recursos importantes para
auxiliar o processo de mudança na escola - a criação de ambientes de
aprendizagem que enfatizam a construção do conhecimento e não a instrução. Isso
implica em entender o computador como uma nova maneira de representar o
conhecimento provocando um redimensionamento dos conceitos básicos já
conhecidos e possibilitando a busca e compreensão de novas idéias e valores.
Usar o computador com essa finalidade requer a análise cuidadosa do que
significa ensinar e aprender, demanda rever a prática e a formação do professor
para esse novo contexto, bem como mudanças no currículo e na própria estrutura
da escola.
O QUE É INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO?
O termo "Informática na Educação" tem assumido
diversos significados dependendo da visão educacional e da condição pedagógica
em que o computador é utilizado.
( ... ) O termo "Informática na Educação" significa a
inserção do computador no processo de aprendizagem dos conteúdos curriculares
de todos os níveis e modalidades de educação. Para tanto, o professor da
disciplina curricular deve ter conhecimento sobre os potenciais educacionais do
computador e ser capaz de alternar adequadamente atividades tradicionais de
ensino-aprendizagem e atividades que usam o computador.
No entanto, a atividade de uso do computador na disciplina
curricular pode ser feita tanto para continuar transmitindo a informação para o
aluno e, portanto, para reforçar o processo tradicional de ensino (processo
instrucionista), quanto para criar condições para o aluno construir seu
conhecimento por meio da criação de ambientes de aprendizagem que incorporem o
uso do computador (processo construcionista).
AS ABORDAGENS INSTRUCIONISTA E CONSTRUCIONISTA
O computador pode ser usado na educação como máquina de ensinar
ou como máquina para ser ensinada. O uso do computador como máquina de ensinar
consiste na informatização dos métodos de ensino tradicionais. Do ponto de
vista pedagógico esse é o paradigma instrucionista. Alguém implementa no
computador uma série de informações e essas informações são passadas aos alunos
na forma de um tutorial, exercício-e-prática ou jogo. Além disso, esses
sistemas podem fazer perguntas e receber respostas no sentido de verificar se a
informação foi retida. Essas características são bastante desejadas em um
sistema de ensino instrucionista já que a tarefa de administrar o processo de
ensino pode ser executada pelo computador, livrando o professor da tarefa de
correção de provas e exercícios.
Embora, nesse caso o paradigma pedagógico ainda seja o
instrucionista, esse uso do computador tem sido caracterizado, erroneamente,
como construtivista, no sentido piagetiano, ou seja, para propiciar a
construção do conhecimento na "cabeça" do aluno. Como se o
conhecimento fosse construído por meio de tijolos (informação) que devem ser
justapostos e sobrepostos na construção de uma parede.
Nesse caso, o computador tem a finalidade de facilitar a construção
dessa "parede", fornecendo "tijolos" do tamanho mais
adequado, em pequenas doses e de acordo com a capacidade individual de cada
aluno.
Com o objetivo de evitar essa noção errônea sobre o uso do
computador na educação, Papert denominou de construcionista a abordagem pela
qual o aprendiz constrói, por intermédio do computador, o seu próprio
conhecimento. Ele usou esse termo para mostrar um outro nível de construção do
conhecimento: a construção do conhecimento que acontece quando o aluno constrói
um objeto de seu interesse, como uma obra de arte, um relato de experiência ou
um programa de computador. Na noção de construcionismo de Papert, existem duas
idéias que contribuem para que esse tipo de construção do conhecimento seja
diferente do construtivismo de Piaget. Primeiro o aprendiz constrói alguma
coisa ou seja, é o aprendizado por meio do fazer, do "colocar a mão na
massa". Segundo, o fato de o aprendiz estar construindo algo do seu
interesse e para o qual ele está bastante motivado. O envolvimento afetivo
torna a aprendizagem mais significativa.
Entretanto, na minha opinião, o que contribui para a diferença
entre essas duas maneiras de construir o conhecimento é a presença do
computador - o fato de o aprendiz estar construindo algo usando o computador
(computador como máquina para ser ensinada). Nesse caso, o computador requer
certas ações que são bastante efetivas no processo de construção do
conhecimento.
Quando o aluno interage com o computador passando informação
para a máquina se estabelece um ciclo -
descrição-execução-reflexão-depuração-descrição - que é o propulsor do processo
de construção do conhecimento. Por exemplo, para programar o computador para
resolver um problema o aluno deve ser capaz de passar a idéia de como resolver
o problema na forma de uma seqüência de comandos da linguagem de programação.
Isso significa, a descrição da solução do problema usando comandos da
linguagem de programação.
O computador, por sua vez, realiza a execução desses
procedimentos. O computador age de acordo com cada comando, apresentando na
tela um resultado na forma de um gráfico. O aluno olha para a figura que está
sendo construída na tela e para o produto final e faz uma reflexão sobre
essas informações.
O processo de refletir sobre o resultado de um programa de
computador pode acarretar uma das seguintes ações alternativas: ou o aluno não
modifica o programa porque as suas idéias iniciais sobre a resolução daquele
problema correspondem aos resultados apresentados pelo computador e, então, o
problema está resolvido; ou depura o programa quando o resultado é diferente da
sua intenção original. A depuração pode ser em termos de alguma
convenção da linguagem de programação, sobre um conceito envolvido no problema
em questão (o aluno não sabe sobre o ângulo), ou ainda sobre estratégias (o
aluno não sabe como usar técnicas de resoluções de problemas).
A atividade de depuração é facilitada pela existência do
programa do computador. Esse programa é a descrição das idéias do aluno em
termos de uma linguagem simples, precisa e formal. Essas características
disponíveis no processo de programação facilitam a análise do programa de modo
que o aluno possa achar seus erros (bugs).
O processo de achar e corrigir o erro constitui uma oportunidade
única para o aluno aprender sobre um determinado conceito envolvido na solução
do problema ou sobre estratégias de resolução de problemas. O aluno pode também
usar seu programa para relacionar com seu pensamento em um nível metacognitivo.
Ele pode analisar seu programa em termos de efetividade das idéias, estratégias
e estilo de resolução de problema. Nesse caso, o aluno começa a pensar sobre
suas próprias idéias (abstração reflexiva).
Entretanto, o processo de descrever, refletir e depurar não
acontece simplesmente colocando o aluno em frente ao computador. A interação
aluno-computador precisa ser mediada por um profissional que conhece os
potenciais do computador, tanto do ponto de vista computacional, quanto do
pedagógico e do psicológico. Esse é o papel do professor ou agente de
aprendizagem. Além disso, o aluno como um ser social, está inserido em um
ambiente social que é constituído, localmente, pelos seus colegas e,
globalmente, pelos pais, amigos e mesmo a sua comunidade. O aluno pode usar
todos esses elementos sociais como fonte de idéias, de conhecimento ou de
problemas a serem resolvidos por intermédio do uso do computador.
O ciclo descrição-execução-reflexão-depuração-descrição que se
estabelece na programação também acontece quando o aluno usa o computador para
criar um texto usando um processador de texto, quando utiliza o computador para
desenvolver uma multimídia por meio de um software de autoria, ou mesmo uma
planilha ou criar um banco de dados. Ou seja, esse ciclo acontece sempre que o
aluno interage com o computador usando software abertos onde é o aluno que
transmite informação para a máquina e não a máquina para o aluno.
IMPLICAÇÕES DO CONSTRUCIONISMO NA MUDANÇA DA ESCOLA
A abordagem que usa o computador como meio para transmitir a
informação ao aluno mantém a prática pedagógica vigente. Na verdade, o
computador está sendo usado para informatizar os processos de ensino que já
existem. Isso tem facilitado a implantação do computador na escola, pois não
quebra a dinâmica por ela adotada.
Além disso, não exige muito investimento na formação do
professor. Para ser capaz de usar o computador nessa abordagem basta ser
treinado nas técnicas de uso de cada software. No entanto, os resultados em
termos da adequação dessa abordagem no preparo de cidadãos capazes de enfrentar
as mudanças que a sociedade está passando são questionáveis. Tanto o ensino
tradicional quanto sua informatização preparam um profissional obsoleto.
Por outro lado, o uso do computador na criação de ambientes de
aprendizagem que enfatizam a construção do conhecimento apresenta enormes
desafios. Primeiro, implica em entender o computador como uma nova maneira de
representar o conhecimento. Segundo, requer a análise cuidadosa do que
significa ensinar e aprender, bem como demanda rever o papel do professor nesse
contexto. Terceiro, a formação desse professor envolve muito mais do que prover
o professor com conhecimentos sobre computadores. O preparo do professor não
pode ser uma simples oportunidade para passar informações, mas deve propiciar a
vivência de uma experiência. É o contexto da escola, a prática dos professores
e a presença dos seus alunos que determinam o que deve ser abordado nos curso
de formação. Assim o processo de formação deve oferecer condições para o
professor construir conhecimento sobre as técnicas computacionais e entender
por que e como integrar o computador na sua prática pedagógica.
Além disso, a mudança na escola envolve muito mais do que formar
o professor. Mudanças na formação deste profissional não podem ser vistas como
único fator desencadeador de mudança na escola como um todo. Outros aspectos
também devem ser revistos, tais como: a forma como o currículo afeta o
desempenho do professor e a maneira como a gestão escolar interfere na sala de
aula. É necessário que os elementos atuantes na escola - alunos, professores,
administradores e pais - sejam capazes de superar barreiras de ordem pessoal,
administrativa e pedagógica, com o objetivo de ultrapassar uma visão
fragmentada de ensino a fim de alcançar uma concepção interdisciplinar voltada
para o desenvolvimento de projetos específicos de interesse dos alunos e da
comunidade. Além disso, a escola deve criar condições para que o aluno saiba
recontextualizar o aprendizado, integrar a experiência vivenciada na sua
formação com a sua realidade de vida, compreendendo suas potencialidades e
compatibilizando-as com os objetivos profissionais que pretende alcançar.
Portanto, os desafios na implementação do computador na escola,
objetivando uma mudança educacional são enormes. No entanto, se eles não forem
atacados corremos o risco de perpetuarmos uma escola que já é obsoleta. Só que
agora, ela será obsoleta porém, usando a informática.
Disponível em <http://www.nte-jgs.rct-sc.br/valente.htm>. Acesso em 28/06/2012.
ASPECTOS SOCIAIS E
PSICOLÓGICOS DAS NOVAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS*
Steen Larsen
RESUMO
Simples transferência
de informação não é idêntica à elaboração de conhecimento. É preciso
compreender esta diferença, caso não se queira reduzir o entendimento do
ensino-aprendizagem a uma teoria simplista. Para superar este simplismo, o
autor apresenta uma teoria de ensino-aprendizagem que abrange três estágios, baseando-se
no fundamento de que informações explícitas devem ser transformadas em
conhecimento personalizado por meio de re-estruturação sócio-cognitiva em
situações sociais de aprendizagem. O autor conclui que nossas escolas precisam
sofrer profundas mudanças, deixando de ser auditórios para ouvintes isolados e
passando a ser laboratórios de cooperação ativa.
1. INTRODUÇÃO
O rápido
desenvolvimento e amplo uso de novas tecnologias educacionais coloca a
necessidade da correspondente elaboração de novas teorias e filosofias de
educação. Esta renovação do saber educacional deve ter como um de seus pontos
de partida o fato de que as novas tecnologias estão voltadas mais
significativamente para o tratamento de informações que as tecnologias
anteriores. Por isto, é importante entender o que realmente é e o que não é
informação, caso não se queira, com ou sem o uso de novas tecnologias,
converter nossas escolas em instituições irrelevantes ou decadentes. Se não
tomarmos este cuidado, corremos o risco de formar uma geração de estudantes
historicamente mais informada que qualquer outra, mas, apesar disto, com menos
conhecimento.
A conclusão do
parágrafo anterior parece contraditória. Não é. Há contradição, no caso, apenas
para aqueles que pensam que transmitir informações para os alunos é idêntico a
proporcionar-lhes conhecimento. Pretendemos aqui discutir esta falsa
contradição e apresentar uma teoria para o uso da nova tecnologia da informação
no âmbito educacional.
2. TEORIAS SIMPLISTAS
E TEORIAS COMPREENSIVAS
Ao examinar o tema
educação, percebemos dois tipos de abordagens teóricas de
ensino-aprendizagem: uma simplista, outra compreensiva. Freqüentemente,
professores pouco experientes empregam analogias pertencentes à categoria que
podemos chamar de “teoria da transferência no ensino” (Fox, 1983). Este ponto
de vista teórico vê as mentes dos estudantes como recipientes nos quais as
informações relevantes (conteúdos) devem ser depositados.
A primeira abordagem
teórica é simplista porque não faz qualquer distinção entre informação e
conhecimento. Parte do pressuposto de que transferir informação para os
alunos é idêntico a dar-lhes conhecimento. A partir desta perspectiva, as preocupações
educacionais acabam se reduzindo a questões do tipo: como elaborar bons
materiais didáticos; como desenvolver e aperfeiçoar os métodos de
transmissão; como elaborar material auxiliar a fim de que os professores
possam, de modo preciso, levar informações relevantes aos recipientes. Esta
teoria simplista da transmissão predomina ainda hoje na concepção de programas
de EAC – Ensino Assistido por Computador.
A segunda abordagem teórica
(compreensiva) considera que o aluno é também sujeito e não apenas mero objeto
no processo de transmissão da informação. Consequentemente, ela propõe que o
aluno deve construir seu próprio conhecimento a partir da informação recebida.
Não é suficiente, portanto, transmitir informação. O processo de
ensino-aprendizagem precisa ser visto de modo mais compreensivo.
Levar em conta a
diferença entre conhecimento e informação é o primeiro passo na transição de
uma visão simplista para uma teoria mais compreensiva da educação. Pretendo
discutir tal diferença no âmbito do processo de comunicação; processo este
geralmente associado à idéia de transferência de uma mensagem de uma para outra
pessoa. A raiz da palavra comunicação é comum; ou seja, refere-se algo de uso
público, a linguagem. O pré-requisito para comunicação dos pensamentos íntimos
de uma pessoa é colocá-los numa forma que obedeça regras comuns (compartilhadas)
no campo da semântica e da sintaxe. Este processo pelo qual os pensamentos
íntimos de alguém são transformados de acordo com fórmulas lingüísticas
compartilhadas deve, porém, ocorrer internamente antes que qualquer mensagem
possa ser transferida para outros. A comunicação, assim, abrange dois momentos:
1)Conhecimento pessoal e
subjetivo que é transformado em fórmulas lingüísticas compartilhadas;
2)mensagem lingüística que
é transferida a outros, tornando-se pública.
Conhecimento, portanto, é
algo pessoal, pré-conceitual e não lingüístico em sua origem, e que, por meio
do processo de comunicação, pode se transformar em informação pública. Na
direção inversa, informação pode ser definida como conhecimento pessoal que foi
transformado, por meio do processo de comunicação, em algo compartilhável.
Os argumentos até
aqui desenvolvidos têm implicações importantes. Primeira: o conhecimento não
existe independentemente dos seres humanos por causa de suas dimensões
subjetivas e pré-conceituais; em outras palavras, conhecimento é mais do
que simples informação, é um conglomerado que inclui também aspectos não
lingüísticos como experiência prévia, sentimentos, memórias episódicas,
imaginação, expectativas, etc.
A segunda implicação
importante é a de que o conhecimento não pode ser transferido diretamente de
uma pessoa para outra, sem ser primeiramente transformado em informação. Esta
última, por outro lado, pode ser diretamente transferida porque é constituído
por elementos bem definidos e explícitos, enquanto que conhecimento, devido a
suas características compreensivas e implícitas, pode apenas ser induzido
(Larsen, 1986 c).
3. POR UMA TEORIA
COMPREENSIVA DA EDUCAÇÃO
A partir da discussão
anterior, é possível agora delinear uma teoria educacional compreensiva,
abrangendo três estágios.
O primeiro estágio consiste
na transformação do conhecimento implícito e pessoal dos professores em
informação explícita. Funções tais como a definição de conceitos, escolha da terminologia,
divisão da disciplina em tópicos claros e independentes, elaboração de textos,
etc., integram este estágio. A transformação de conhecimento implícito e
pessoal em informação explícita é o primeiro estágio de qualquer processo
educacional. Podemos identificá-lo em situações tais como: para dar sua próxima
aula, um professor está planejando seu trabalho; um autor está delineando a
concepção de seu próximo livro didático; ou uma equipe de educadores está
preparando as especificações de um software educacional.
Quando a
transformação a que nos referimos anteriormente chega ao fim, o processo
educacional entra no segundo estágio. Basicamente, esta fase consiste na transferência
da informação produzida para os alunos. Tal estágio inclui todos os
meios de transferência que tão bem conhecemos, ou seja: a fala, o texto, o rádio, a
TV, o computador, etc. A questão fundamental, nesta fase, é assegurar
que as informações relevantes sejam transmitidas do modo mais efetivo possível
aos alunos, sem ruídos perturbadores ou interrupções.
Nos dois primeiros
estágios transitamos ainda por um campo parecido com aquele proposto pelas
concepções simplistas de educação. Ingressamos na área de uma teoria mais
compreensiva do processo educacional apenas quando avançamos para o terceiro
estágio. Este último é alcançado no momento em que compreendemos que os alunos
são sujeitos e devem desenvolver seu conhecimento pessoal a partir da
informação recebida. Neste estágio, os atores são os alunos. Eles deverão, de
certa forma, trilhar um caminho inverso ao percorrido pelos professores no primeiro
estágio, transformando informação pública em conhecimento pessoal. Neste
momento, a informação recebida será “digerida”, perdendo as características de
um padrão de elementos bem definidos e parcelados, e sendo gradualmente
assimilada e integrada à estrutura de conhecimento já existentes dos alunos.
A meta final da
educação é criar especialização. Tal proeza não é resultado apenas de
informação e pensamento lógico-formal. Nas situações concretas da vida,
verdadeiros especialistas não trabalham exclusivamente de acordo com fatos e
regras explícitas. Verdadeiros especialistas ultrapassam a fase da
lógica formal e da informação auto-regulatória, trabalhando mais
automaticamente, dirigidos pela experiência, intuição e conhecimento pessoal.
Convém, neste momento,
lançar mão de uma citação de Minsky (1983) descrevendo a diferença entre
pensamento lógico-formal e senso comum:
1. Por que é mais
fácil(…) elaborar programas especializados em cálculo e xadrez que programas
capazes de resolver problemas infantis ou especialistas na análise de cenas da
vida comum? A resposta a esta questão é aparentemente paradoxal. Os
procedimentos que tanto admiramos nas áreas de cálculo e xadrez, apesar da
dificuldade em descobri-los e aprendê-los, são quase sempre claros e simples
numa análise final… Os conhecimentos especializados que se requer para
trabalhar uma dada estrutura matemática são uniformes e homogêneos. Por outro
lado, analisar como o conhecimento comum se estrutura não é tarefa fácil…
Ninguém é capaz sequer de escrever bons axiomas lógico-formais e regras de
inferência para qualquer campo substancial de conhecimento do senso comum.
Por quê? Porque o
conhecimento pessoal e o senso comum não se baseiam exclusivamente em processos
governados por regras bem estabelecidas. Funções lógicas, governadas
estritamente por regras, são monótonas, uma vez que dadas certas premissas elas
levam sempre a conclusões determinadas e previsíveis. Através da prática, estas
formas de pensar, lógicas e matemáticas, são, por assim dizer, gradualmente
condensadas, convertendo-se num conhecimento verdadeiramente especializado,
automático e intuitivo. A especialização avançada, dadas as suas
características de não monotonia, está mais próxima do senso comum que o
pensamento lógico-formal. Cabe aqui a citação do testemunho de Daniel Boorstin
(1980), diretor da Biblioteca do Congresso Americano:
É um lugar comum de nosso
tempo afirmar que esta nação precisa de “cidadãos bem informados”. (…) Eu, pelo
contrário, proponho que precisamos – em qualquer país verdadeiramente livre –
de “cidadãos que tenham conhecimento”.
Informação, assim
como diversão, é artigo de consumo. Esperamos obter de alguém diversão e
informação. Não podemos, porém, obter conhecimento! Cada um de nós deve
construir um conhecimento pessoal.
Como, porém, a
informação recebida é transformada em especialização e conhecimento pessoal no
terceiro estágio?
A transformação ocorre
quando os alunos estão engajados em atividades de cooperação, interação social,
discussão, explicação, recuperação de experiências prévias, solução de
problemas do cotidiano. A re-estruturação do conhecimento dos alunos é
facilitada pelo aparecimento do que podemos chamar de conflitos cognitivos
nestas atividades.
4. CONFLITOS
SÓCIO-COGNITIVOS E RE-ESTRUTURAÇÃO DO CONHECIMENTO
De acordo com Piaget
(1950),o desenvolvimento cognitivo está intimamente associado com o engajamento
em ações e operações que são, ao mesmo tempo social e individualmente
organizadas.
Ele afirma que é pelo constante intercâmbio de pensamentos com os outros que
nos descentralizamos de nós mesmos, podendo assim coordenar relações internas
derivadas de diferentes pontos de vista. Para Piaget, a cooperação é a primeira
de uma série de formas de comportamento importantes na constituição e desenvolvimento
do pensamento.
Especialistas em teoria da
aprendizagem, como Murray (1974) e Bandura (1977), explicam a aquisição de
novas habilidades nas crianças como resultado de um processo de imitação,
particularmente do processo de imitação dos melhores modelos. Por outro lado, Mungny e
Doise (1978), e Weinstein e Bearison (1985) mostram que sujeitos que interagem
com parceiros menos avançados alcançam tanto progresso quanto sujeitos que
interagem com parceiros mais avançados. Assim, a idéia de que a imitação é um
mecanismo fundamental na aprendizagem social parece não se sustentar.
Marian, Desjardins e
Breante (1974) observaram que a “interação entre participantes cresce quando o
conflito cognitivos é sentido por todos”. Na mesma direção, Daise, Mugny e Perret-Clermant
(1975) delinearam um modelo sócio-cognitivo do desenvolvimento infantil,
baseando-se na hipótese do “conflito cognitivo experimentado e resolvido
socialmente”. Em diversos experimentos, os últimos autores mostraram que as
crianças, quando trabalham juntas em díades e têm oportunidade de gerar
conflitos sócio-cognitivos, são capazes de resolver problemas de nível mais
elevado que as crianças que trabalham isoladamente. Além disto, como
mostraram Mugny e Doise (1978), é nas combinações diádicas, onde sujeitos com
diferentes níveis de habilidade trabalham em conjunto, que parceiros menos e
mais avançados progridem consistentemente.
Parece que a
re-estruturação cognitiva é mais forte nos trabalhos grupais que nos
individuais, porque a interação social gera diferentes visões de oposição,
possibilitando desta forma conflitos cognitivos entre os sujeitos. E, de Acordo
com Piaget (1975), “os fatores mais produtivos na aquisição (do conhecimento)
são os distúrbios gerados pelo conflito”.
Os mencionados conflitos
obrigam as pessoas a coordenarem suas ações. Isto sugere que uma acomodação no
encontro com os pontos de vista de outrem pode ser assimilada se a
re-estruturação cognitiva ocorrer. De acordo com Clermont (1980), conflitos
deste tipo…
… trazem um desequilíbrio
que torna necessária a elaboração cognitiva. Desta forma, o conflito cognitivo
confere um papel especial ao fator social como um dos elementos mais
importantes no crescimento mental. O conflito sócio-cognitivo pode ser
figurativamente comparado com a reação catalítica no campo da química; esta
última não aparece no produto final, mas sem ela a nova estrutura não ocorre.
A partir da
importância da interação social na aprendizagem, pode-se concluir, portanto,
que uma criança, quando trabalha sozinha numa certa tarefa, fica presa a uma
abordagem egocêntrica se comparada com crianças que trabalham cooperativamente.
No último caso, os conflitos sócio-cognitivos, devido aos diferentes pontos de
vista, fazem com que a re-estruturação cognitiva seja um necessidade para as
pessoas.
5. ENSINO ASSISTIDO
POR COMPUTADOR E INTERAÇÃO SOCIAL
Até agora, poucas
investigações sistemáticas têm se voltado para a questão da interação social
entre estudantes no contexto de trabalho com computadores. Há algumas
descrições incidentais sobre a troca de idéias entre estudantes usando
programas de gerenciamento de dados (Rubin, 1980; Collins, Bruce e Rubin, 1982;
Zacchei, 1982) e programação de computadores em grupo (Jabs, 1981).
Os poucos estudos
sistemáticos já efetuados na área, porém, apontam para diferenças notáveis
entre o trabalho individual e o grupal com computadores. Reid, Palmer, Whitlock e
Jones (1973), por exemplo, observaram que algumas crianças resolveram problemas
de modo mais efetivo em grupos que individualmente. Um estudo conduzido por
Cheney (1977) mostrou que alunos trabalhando em duplas para aprender
programação obtiverem melhores resultados que alunos que trabalharam
isoladamente. Na mesma direção, Klaus e Grau (1976), num estudo com alunos de
7ª série, com desempenho abaixo da mediana em aritmética e que trabalharam,
tanto individual como coletivamente, em tarefas de dificuldade progressiva
controladas por computador, descobriram que os trabalhos em grupo demandaram,
em média, 60% ,menos tempo que os trabalhos individuais.
Pode-se argumentar que os
alunos melhor preparados irão dominar e até mesmo tornar passivos os
companheiros menos talentosos no contexto de trabalhos grupais. Aparentemente,
isto não é verdadeiro em todas as ocasiões. Numa pesquisa realizada por Webb
(1984) sobre a aprendizagem de programação em pequenos grupos, ficou
evidenciado que o número de ocupações e o tempo gasto no teclado tem pouca
relação com os resultados de computação. Os estudantes distantes das máquinas
pareciam tão envolvidos com o material como aqueles que trabalhavam diretamente
no teclado. Além disto, a cooperação grupal pareceu ser menos baseada em
verbalização se comparada com outras atividades comuns da sala de aula:
Em trabalhos típicos
da sala de aula, os estudantes podem explicar verbalmente como fazer o trabalho
ou podem mostrar a um companheiro a direção a seguir, escrevendo, por exemplo,
a solução de problemas de matemática no papel ou no quadro negro. Mesmo
quando “mostram” o trabalho, os alunos quase sempre empregam pistas verbais se
a solução encontrada não é completa. Com os computadores, porém, as estratégias
ou abordagens para resolver problemas (o programa) e os resultados são vistos
claramente pôr todo, uma vez que aparecem de modo padronizado na tela. Desta
maneira, os alunos podem aprender a partir daquilo que os outros fazem, assim
como do que dizem.
6. ESTÁGIO 3: UM
LABORATÓRIO PARA A RE-ESTRUTURAÇÃO COGNITIVA
A partir do terceiro
estágio da teoria de educação aqui delineada, pode-se concluir que o uso de
novas tecnologias de informação deve ser visto de uma perspectiva mais ampla
que aquela dos instrumentos para a transmissão efetiva da informação.
Ao contrário da informação,
o conhecimento não pode ser “transferido” para os alunos. Deve ser induzido em
contextos de aprendizagem que possibilitem a transformação da informação em conhecimento. Como
já se observou, tais contextos de aprendizagem devem ser baseados em atividades
sociais que criem conflitos sócio-cognitivos “naturais”, facilitando assim a re-estruturação
cognitiva. Uma vez que os estágios iniciais do processo de ensino estão mais ou
menos voltados para a transferência de informação, nossas escolas atualmente
são dominadas por auditórios. Se a importância do terceiro estágio não for
levada em conta, as novas tecnologias se converterão em simples prolongamento
da visão tradicional e simplista do ensino. Na era da informação, não basta
construir auditórios mais sofisticados e eletrônicos; é preciso ter
laboratórios para a re-estruturação cognitiva.
Brown (1983) sugere
que a tecnologia computadorizada fará renascer nas escolas o “aprender
fazendo”.
Creio que a
tecnologia irá mudar fundamentalmente tanto o uso como o conteúdo do “aprender
fazendo”. Em particular, ela irá possibilitar um leque mais amplo dos cenários
do aprender fazendo e a expansão dos tipos de conhecimentos que podem ser
ensinados. Ou seja, ela irá facilitar e melhorar a aprendizagem das habilidades
meta-cognitivas, habilidades do pensar sobre o pensar, o aprender, o lembrar e
o diagnosticar.
Esta visão, porém,
não é congruente com a filosofia educacional original pôr trás do aprender
fazendo. Devido à ausência de trabalho prático e autêntico nas escolas, a
realidade é substituída pôr cenários abstratos e artificiais. Aprender está muito
próximo do resolver problemas, e o computador é uma ferramenta poderosa para
este tipo de trabalho. Mas qual o tipo de problemas que os alunos resolvem
realmente quando o computador é usado na educação? Raramente a mencionada
máquina é empregada para resolver problemas reais; quase sempre ela é usada
como uma fonte de problemas artificiais.
Parece que o uso de
novas tecnologias está gerando um paradoxo: as escolas possuem agora uma
ferramenta poderosa para resolver problemas; mas, que problemas podem ser
resolvidos? Como as escolas estão afastadas das dimensões mais importantes da
vida na sociedade, muitos dos problemas que os alunos estão tentando resolver
no âmbito escolar são de caráter abstrato e artificial.
7. UMA SOCIEDADE SEM
ESCOLAS?
De acordo com alguns
filósofos da educação, o paradoxo atrás mencionado pode ser resolvido numa
sociedade sem escolas. Illich (1972), por exemplo, propõe uma visão de uma
sociedade desescolarizada. Atualmente esta visão vem sendo associada à
tecnologia da informação. Papert (1983), o criador da linguagem LOGO, apresenta
esta tendência da seguinte forma:
A presença do
computador é o que tornará uma sociedade desescolarizada possível e até mesmo
necessária. Se minha perspectiva do modo pelo qual os computadores devem ser
utilizados for concretizada, a estrutura escolar será colocada em xeque em
todos os níveis, do epistemológico ao social.
Na mesma direção,
outros pesquisadores vêm afirmando que os microcomputadores darão nova vida ao
trabalho no lar, escritórios e laboratórios, e irão acelerar a adoção de modos
alternativos de educação, possibilitando, por esta via, o surgimento de uma
sociedade desescolarizada. Os atuais sistemas de educação foram concebidos a
partir de fatores históricos, sociais e econômicos que estão mudando. A
educação oferecida hoje torna-se cada vez menos efetiva para fazer frente às
necessidades do mundo contemporâneo. Esta circunstância pode levar ou à
abolição das instituições escolares ou à diminuição do papel destas como o
conseqüente surgimento de sistemas mais compreensivos e menos formais (Ross,
1982).
O desenvolvimento da
tendência identificada por tais autores irá, de acordo com Papert, converter a
educação pública em um ato privado:
Dentro de poucos anos
assistiremos a uma explosão do número de computadores de uso pessoal. Mais que
este dado quantitativo, o fenômeno do computadores pessoais parece estar
surgindo numa direção que irá possibilitar, do ponto de vista qualitativo, um
uso bastante parecido com o proposto pelo contexto LOGO. Quando isto ocorrer,
alcançaremos, pela primeira vez na história, uma alternativa viável para as
escolas e a possibilidade de que a educação se converta num ato privado… Este é um
cenário plausível. Na próxima década, um considerável número de famílias possivelmente
passará a ver o computador como uma alternativa viável para a escola pública
(Papert, 1983).
Esta visão é muito
parecida com os sonhos delineados por educadores como Rousseau e Dewey. Ela
propõe, em síntese, uma volta ao modo natural de aprender e à “aprendizagem
pelo fazer”. Mas, assim como em outras dimensões da vida, os métodos
educacionais dependem de certos pressupostos que não podem ser desconsiderados
se não quisermos converter belos sonhos em pesadelos. E quais
são os pressupostos para a aprendizagem natural a partir do fazer? A resposta é
simples: é preciso que a educação tenha relação com a vida social da criança.
Por que muitas crianças aprendem a falar sem instrução sistemática? Porque
falar é uma necessidade social no seu dia a dia. Por que a maioria das crianças
não aprende a escrever sem instrução sistemática? Porque escrever não é uma
necessidade social em sua vida cotidiana. Isto significa que a aprendizagem
natural pelo fazer depende de como uma necessidade social está presente na vida
diária da criança. O que for necessário será aprendido automaticamente e sem
instrução sistemática. Na sociedade pré industrial as necessidades eram muitas
e, ao mesmo tempo, a demanda por educação sistemática não era expressiva. O
mundo era pequeno e estático, e podia, literalmente, ser apreendido em sua
totalidade pela criança.
Na sociedade da alta
tecnologia as relações mudaram. Com o desenvolvimento tecnológico as coisas se
tornaram mais fáceis e as necessidades diminuíram. Uma das afirmações mais comuns
que acompanha o surgimento de mais uma inovação tecnológica é “não é mais
necessário…” Exemplos: “não é mais necessário lavar as roupas à mão”, “…ir à
biblioteca”, “…ir às compras” e, talvez, “…ir à escola”.
Para os adultos, as
perspectivas abertas pela sociedade da alta tecnologia podem significar maior
liberdade pessoal, pois há menos coisas a fazer. Mas quais serão as
conseqüências para as crianças caso as demandas sociais sejam menores e haja
menos coisas para fazer? Neste caso, existirão menos oportunidades para a
aprendizagem natural e para o aprender fazendo.
Por este motivo, será
preciso organizar tarefas e criar necessidades para “desafiar” as crianças.
Necessidades criadas ou organizadas – ou mais precisamente, necessidades
artificiais – são jogos de simulação. Nos domínios onde a necessidade social
diminui, fica aberto o espaço para a simulação e a motivação. “Faça de conta
que…” torna-se uma expressão chave.
A apresentação
imediata é substituída por representações mediadas, num processo gradual e
inconsciente que torna a educação mais abstrata e mais inautêntica ainda
(Larsen, 1986b).
É preciso entender,
porém, que educação não se reduz a instrução. As escolas não se ocupam
exclusivamente com o ensino e a instrução, mas cumprem também outras
finalidades sociais importantes. Se a educação se converter num ato privado,
sendo, por exemplo, viabiliza por meio de computadores pessoais, algumas
dimensões sociais muito importantes da educação possivelmente serão perdidas
(Larsen, 1986a).
A interação entre a
criança e o computador cria uma relação dual artificial que, à primeira vista,
é paralela à relação aluno/professor. Porém, a aprendizagem efetiva não se
reduz à relação professor/aluno. Isto pode ser importante nos estágios iniciais
do processo educacional quando a necessidade de instrução e informação é muito
grande. Mas, quando a educação chega ao terceiro estágio, a relação
instrucional torna-se menos relevante na medida em que o aluno começa a usar
suas habilidades e conhecimentos numa perspectiva social mais ampla em
cooperação com outros parceiros. Para chegar a esta extensão do processo de
aprendizagem pessoal, a instrução privada via microcomputadores é
contraproducente, dado o seu caráter meramente individual.
8. CONCLUSÃO
Uma vez que a maioria
dos produtos de EAC hoje existentes está baseada na teoria de transferência, as
atenções se voltam para o primeiro e segundo estágio – transformação do
conhecimento pessoal em informação pública, e transmissão e distribuição da
informação para os alunos.
Estes dois estágios
são bem conhecidos na implementação de software educacional (Larsen, 1987).
Nesta direção, muito tempo e espaço têm sido empregados no desenvolvimento de
programas e bancos de dados que podem apresentar informações relevantes para os
alunos. O terceiro estágio – situação em que a informação obtida deve ser
digerida pelos alunos – porém, é quase sempre desconsiderado. Este é um sério
engano, pois reduz a educação à mera transferência de informação. Transformar a
informação recebida em conhecimento pessoal requer duas importantes funções:
transformação da informação explícita e objetiva em conhecimento subjetivo e
pessoal, e integração coerente do novo saber aos padrões de conhecimento
já existentes na mente do aluno.
As mencionadas funções,
dadas as suas características subjetivas, não podem ser inseridas no software,
mas devem ser estimuladas desde outras instâncias em que a aprendizagem ocorre.
Esta é a razão pela qual o conhecimento não pode simplesmente ser transmitido,
mas induzido por meio de atividades como cooperação, interação social,
re-estruturação pôr meio de conflitos sócio-cognitivos, e discussão e solução
de problemas da vida real. Assim, a educação deve basear-se tanto na
comunicação como na transformação/personalização. Nesta direção, o uso de
tecnologias de informação não deve ser visto isoladamente, mas como parte de
uma situação educacional mais ampla. A tecnologia é uma ferramenta, não um fim
em si mesma.
Quando trabalhamos
com as novas tecnologias na educação, devemos ter em mente o modelo de três
estágios e estar conscientes das atividades requeridas pelo terceiro estágio.
Assim, ao implementar novos softwares educacionais precisamos nos perguntar:
quais são as atividades necessárias para complementar meu software de maneira
que a informação apresentada seja transformada em conhecimentos pelos alunos?
A integração das
novas tecnologias da informação ao processo educativo implica, portanto, no
entendimento de que educação não é apenas um problema de instrução. Os modernos
produtos tecnológicos não devem ser vistos como máquinas de ensinar para as
quais se deve desenvolver bons softwares, mas como ferramentas que,
controladas pelos alunos, podem ser um poderoso instrumento para a construção
de conhecimento pessoal. Dentro desta perspectiva, a tecnologia da informação é
apenas um aspecto do contexto social no qual a educação ocorre. Assim, o que é
necessário no momento não é uma tecnologia mais sofisticada ou aprofundamento
dos usos e características desta tecnologia, mas uma “sociologia da educação”
revista (Larsen, 1988).
Os princípios sobre
os quais os atuais sistemas educacionais se baseiam são mais congruentes com
idéias do século passado do que com as possibilidades inerentes às novas
tecnologias. Estas últimas irão expandir as possibilidades educacionais, em
parte porque uma imensa quantidade de informação estará à disposição dos
estudantes, em parte porque os computadores aparentemente oferecem mais
oportunidades para categorias práticas de aprendizagem que as operações mentais
predominantes na maioria dos ambientes de ensino das salas de aula comuns.
Do ponto de vista
educacional, porém, as vantagens das novas tecnologias da informação podem
converter-se em desvantagens se o uso das mesmas não ocorrer de acordo com uma
filosofia educacional explícita e bem definida. É verdade que as novas
tecnologias podem ser empregadas como ferramentas para levar à sala de aula
quase todos os tipos de informação. Esta não é, porém, uma estratégia
educacional razoável. Nossas escolas, auditórios para ouvintes isolados,
precisam converter-se em laboratórios de ativa cooperação. O desafio atual,
neste sentido, é o de investigar como a nova tecnologia da informação pode ser
usada na direção da necessária mudança.
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*Original:
New Technologies in Education: Social and Psychological Aspects, invited paper,
European Conference on Computers in Education – ECCE/88, Lausanne , julho/88. Tradução: Jarbas Novelino
Barato, São Paulo, 1988.
Disponível em <http://jarbas.wordpress.com/038-palestra-de-steen-larsen/>. Acesso em 02 jul de 12.
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